A instalação de um sistema de proteção catódica é a única solução que garante proteção contra a corrosão das tubulações enterradas e tanques de armazenamento das plantas industriais.
Autor:
Luiz Paulo Gomes
Engenheiro de Equipamentos de Petróleo pela
PETROBRAS e diretor da IEC – Instalações
e Engenharia de Corrosão Ltda.
Por serem enterrados e de difícil inspeção visual, os fundos dos tanques e as tubulações enterradas existentes nas fábricas, plantas industriais, indústrias petroquímicas e terminais de armazenamento tendem a ser esquecidos pelos técnicos de operação e manutenção, que geralmente são surpreendidos quando os primeiros furos causados por corrosão começam a aparecer.
Estamos falando das tubulações enterradas de água de combate a incêndio, água de refrigeração, água potável, gás natural, ar comprimido, petróleo, derivados de petróleo e diversos produtos químicos e petroquímicos que existem em qualquer planta industrial.
Os problemas ocorrem, também, nos tanques de armazenamento enterrados ou com base apoiada, que apresentam problemas de corrosão no fundo (parte externa) ou nas superfícies internas do fundo e do costado, dependendo do produto armazenado.
O diagnóstico de corrosão dessas instalações pode ser feito com base na interpretação dos valores das resistividades elétricas e do pH do solo e na análise dos potenciais eletroquímicos tubo/ solo e tanque/solo, que podem ser medidos em qualquer época, sem a necessidade de escavações e com a fábrica em operação.
O estudo permite verificar as condições de corrosão a que estão sujeitos os tanques e as tubulações e definir a necessidade da instalação de um sistema de proteção catódica, que permite eliminar por completo a corrosão, sem interferir na operação normal da fábrica, mesmo que o processo corrosivo já esteja adiantado.
Corrosão pelo solo
O comportamento do solo como meio corrosivo em uma planta industrial é muito importante de ser estudado e depende de muitas variáveis, como: aeração, umidade, pH, presença de micro-organismos, condições climáticas, heterogeneidades, presença de bactérias redutoras de sulfato, presença de fertilizantes, despejos industriais e produtos químicos diversos.
Os problemas de corrosão pelo solo se agravam bastante devido à ocorrência de falhas nos revestimentos das tubulações enterradas e dos fundos dos tanques e, principalmente, devido ao par galvânico aço/cobre, causado pela presença da malha de aterramento elétrico da planta industrial, necessária para a segurança elétrica das instalações, mas extremamente prejudicial sob o ponto de vista da corrosão.
Em condições ainda mais adversas, as tubulações e os tanques de algumas plantas industriais podem, também, ser influenciados por correntes de fuga, oriundas de estradas de ferro eletrificadas, sistemas de proteção catódica existentes nas proximidades, máquinas de solda em operação e outras fontes de corrente contínua. Essas correntes de fuga destroem as instalações metálicas enterradas por corrosão eletrolítica forçada, fazendo com que algumas delas comecem a furar antes mesmo da entrada em operação da planta.
Essa grande quantidade de variáveis faz com que o solo seja considerado um dos meios corrosivos mais complexos que existem, sendo praticamente impossível de se determinar com exatidão sua ação agressiva para os materiais metálicos nele enterrados, normalmente o aço carbono.
Os problemas de corrosão das instalações enterradas em uma planta industrial podem ser diagnosticados com boa precisão, mediante a determinação e análise das seguintes variáveis:
Influência das resistividades elétricas do solo
As resistividades elétricas do solo podem ser medidas por intermédio de um instrumento apropriado, pelo Método de Wenner ou Método dos Quatros Pinos, em todos os locais onde existem tanques de armazenamento ou tubulações metálicas enterradas.
Quanto mais baixas forem a mais facilmente funcionarão as micro-pilhas e macro-pilhas de corrosão, sempre presentes nas superfícies enterradas do aço, devido à variação da composição química, presença de inclusões não-metálicas e tensões internas diferentes, causadas pelos processos de fabricação, conformação e soldagem dos tubos e tanques.
Podemos classificar a agressividade dos solos, sob o ponto de vista da resistividade elétrica medida, conforme a tabela 1.
Observações importantes
Influência dos potenciais tubo/solo e tanque/solo
Potenciais tubo/solo ou tanque/solo significam a diferença de potencial que existe entre uma tubulação enterrada ou um tanque de armazenamento e um eletrodo de referência em contato com o solo.
Essas medições são feitas usando-se instrumentos apropriados, normalmente voltímetros eletrônicos de alta sensibilidade e alta impedância, complementados por uma meia-célula ou eletrodo de referência de Cu/CuSO4.
Os valores dos potenciais tubo/solo e tanque/solo podem ser interpretados da seguinte maneira:
Influência do pH
As medições do pH podem ser feitas mediante análise em laboratório de amostras do solo colhidas em vários locais dentro da fábrica.
Os valores do pH do solo, quando comparados com os valores dos potenciais dos tanques e das tubulações, nos permitem verificar se as instalações enterradas estão operando dentro da faixa de corrosão, de passividade ou de imunidade do conhecido Diagrama de Pourbaix (diagrama E-pH).
Embora seja válido para o ferro em meio aquoso, esse diagrama pode ser usado, na prática, por aproximação, para as instalações de aço enterradas.
Influência do revestimento
Muitos técnicos acreditam que os revestimentos usados nas tubulações e tanques enterrados ou que as camadas betuminosas usadas nos fundos (parte externa) dos tanques de armazenamento são suficientes para proteger aquelas instalações contra a corrosão.
Os especialistas em corrosão sabem, entretanto, que essa crença é totalmente infundada, uma vez que os revestimentos externos aplicados nos tanques e tubulações enterrados possuem poros, falhas, absorvem umidade e envelhecem com o passar do tempo, permitindo o funcionamento das pilhas de corrosão.
Dessa maneira, todas as instalações enterradas, mesmo as bem revestidas, estão sujeitas à corrosão pelo solo e se corroem em pontos localizados, nas falhas e nos poros do revestimento, com maior ou menor intensidade, dependendo, como já vimos, das características do solo, dos valores dos potenciais tubo/solo e tanque/solo, da existência dos pares galvânicos aço/cobre (malhas de aterramento elétrico) e da ocorrência de correntes de fuga (corrosão eletrolítica).
Quanto melhor a qualidade do revestimento, entretanto, menores serão os problemas de corrosão e mais simples os sistemas de proteção catódica, que podem ser dimensionados, nesses casos, para densidades de correntes mais baixas.
Proteção catódica
Uma vez diagnosticada a ocorrência de corrosão nas tubulações enterradas e tanques de armazenamento recomenda-se sempre, qualquer que seja o tipo de corrosão (pelo solo, galvânica, por correntes de fuga ou todas ao mesmo tempo), a instalação de um sistema de proteção catódica.
A instalação do sistema de proteção catódica é a única solução capaz de eliminar os processos corrosivos das tubulações enterradas e tanques com baixo custo e total garantia.
O sistema de proteção catódica largamente utilizado em plantas industriais, por corrente impressa, consiste na instalação de um ou mais retificadores e anodos inertes de ferro.silício.cromo, distribuídos dentro da planta e enterrados na profundidade de até 3,0 metros.
Os potenciais tubo/solo e tanque/solo, nessas condições, são mantidos com valores iguais ou mais negativos que –0,85V (Cu/CuSO4) e a corrosão é totalmente eliminada.
Exemplo prático real
Uma indústria petroquímica no Brasil estava com os fundos dos tanques, tubulações da rede de incêndio e rede de água de refrigeração apresentando furos frequentes, situação comum de ocorrer em plantas industriais, após alguns anos de operação.
As medições de campo que fizemos (resistividades elétricas, pH do solo e potenciais tubo/ solo e tanque/solo), apresentaram os seguintes valores:
a) Resistividades elétricas do solo – As resistividades elétricas do solo, medidas em vinte pontos diferentes ao longo da fábrica, foram as seguintes:
Comentário: Esses valores mostraram que, sob o ponto de vista somente da resistividade elétrica, o solo da região apresentava agressividade variável, desde alta (valores abaixo de 10.000 Ω.cm) a baixa (valores acima de 50.000 Ω.cm), significando possibilidade de funcionamento de micro-pilhas e macro-pilhas de corrosão e ocorrência de ataque corrosivo variando de severo a moderado, justificando, por si só, os problemas de corrosão observados.
b) Potenciais tubo/solo e tanque/solo – Os potenciais tubo/solo e tanque/solo medidos apresentaram os seguintes valores: • 60% dos pontos medidos apresentavam potenciais entre –0,2V e –0,5V. • 40% dos pontos medidos apresentavam potenciais entre –0,5V e – 0,7V.
Comentário: Os valores entre –0,2V e –0,5V mostraram influência da malha de aterramento elétrico, indicando a presença de corrosão galvânica, devido ao par aço/ cobre, contribuindo para o agravamento da corrosão pelo solo.
Os valores entre –0,5V e –0,7V são os potenciais naturais de corrosão do aço enterrado, indicando a ocorrência de corrosão natural pelo solo.
A ausência de potenciais positivos e a ocorrência de potenciais fixos, sem flutuações, mostraram que as tubulações enterradas e tanques de armazenamento não estavam influenciados por qualquer tipo de corrosão por correntes de fuga.
c) pH do solo – As determinações do pH do solo, feitas em laboratório à partir de 10(dez) amostras colhidas na fábrica, apresentavam 100% dos valores com pH abaixo de 7, confirmando, mediante comparação com os potenciais medidos, que os fundos dos tanques e as tubulações enterradas estavam se corroendo, uma vez que operavam na faixa de corrosão do Diagrama Simplificado E-pH.
Solução adotada
Para eliminar os problemas de corrosão que estavam ocorrendo, recomendamos, projetamos e instalamos um sistema de proteção catódica por corrente impressa, que está operando com eficiência há muitos anos.
Os tanques e as tubulações operam agora com potenciais tanque/solo e tubo/solo da ordem de –1,0V (Cu/Cu/SO4) e os furos por corrosão foram totalmente eliminados.
Cumpre destacar que a instalação do sistema de proteção catódica evitou a troca de trechos e chapas corroídas das tubulações e tanques, exigindo apenas simples reparos das regiões perfuradas.
Inspeção de fundo de tanques de armazenamento
Os fundos e os costados dos tanques de armazenamento com base apoiada podem ser 100% inspecionados, com segurança e baixo custo, pelo uso de equipamentos modernos de medição de espessura, disponibilizados no Brasil pela Rosen, que funcionam com tecnologia de fluxo magnético de alta resolução.
Esse tipo de inspeção permite localizar com exatidão os pontos corroídos das superfícies das chapas dos fundos e programar a substituição apenas das chapas mais corroídas, com considerável economia.
Recomendação
Para plantas industriais em construção ou já existentes, mesmo que os furos por corrosão ainda não tenham começado a aparecer, recomendamos adotar o procedimento seguinte:
01/04/2024 18:57:57 por Marcelo Iliescu
Ótima apresentação! Discorreu sobre as causas, efeitos e recomendações para correção.